Juliana Bezerra
Madri – Espanha
Afinal, tem carnaval em Madri? Tem! Aliás, existe carnaval em quase todos os países que seguem a tradição católica de fazer festa antes de começar a Quaresma. Na Espanha, o reinado de Momo é mais forte no sul e nas Ilhas Canárias; e como Madri, por ser capital, atrai gente de todo país, a cada ano a prefeitura organiza mais festas pela cidade. Porém, isso não quer dizer que você vai encontrar batucada, gente com as pernas (e outras partes do corpo) de fora e cerveja aos montes.
Para começar, a música não é um elemento indispensável da festa. A melodia não serve tanto para dançar e sim para dar vida à letra que sempre traz uma feroz crítica social e política. Claro, senão não seria a Espanha! Para isso existem as chirigotas, murgas e comparsas que se organizam mais ou menos como os blocos de rua brasileiros. A cada ano eles trazem temas diferentes, cantam e encenam suas canções animados por suas torcidas. Sim, porque eles competem entre si para saber quem leva o título de campeã.
Gente seminua também seria difícil encontrar porque está frio. As fantasias, entretanto, são mais elaboradas com direito a todos os super heróis possíveis, anjinhos, diabos e imperadores romanos. Também não é feriado em Madri, nem na segunda ou na terça. Aliás, só no sábado e no domingo tem movimento por estas bandas. Por último, é impossível beber cerveja na rua, pois é proibidíssimo consumir álcool em via pública com multas que podem chegar a 300 euros (ui!).
Ou seja: uma ‘chatura’ total…
Não mesmo! Do ponto de vista brasileiro pode ser até esquisito ver o povo sentado (oi?) escutando a chirigota da vez. Mas tem eventos legais como o desfile promovido pela prefeitura de Madri no sábado de carnaval, na calle de Alcalá, na altura do Parque do Retiro. Todo ano há um tema diferente e os vários participantes devem interpretá-lo. O resultado não deixa a desejar a nenhuma escola de samba do grupo especial: carros alegóricos com esculturas lindas e integrantes fantasiados executando suas coreografias. Isso sim, não há o quesito bateria! No final, uma grande queima de fogos põe fim ao desfile.
Igualmente, acontecem bailes de carnaval em clubes e concursos de fantasias. O mais tradicional é o baile do Círculo de Belas-Artes regado a ritmos latinos, rock e DJ’s. Este ano, o tema será “Carnaval al desnudo” e não faço ideia de que tipo de fantasia podemos esperar. O ingresso para não sócios sai por 40 euros.
Para terminar os festejos, existe o costume do “Enterro da Sardinha”, na quarta-feira de cinzas. Uma paródia de cortejo fúnebre, com viúvas chorando, e pessoas enlutadas, acompanha a sardinha para ser queimada. Presente em quase toda geografia espanhola e também em alguns dos países hispano-americanos, em Madri há uma confraria especial que sai pelas ruas acompanhando o bichinho até sua pira funerária.
No mais, nos bares brasileiros sempre se organiza uma batucada. Ano passado teve até bailinho pra garotada. Nem tudo está perdido!
Juliana Bezerra é historiadora e blogueira, escreve no Rumo a Madri e Um ano na Espanha, dentre outras colaborações. Desde 2010, mora em Madri onde se dedica a mostrar o Brasil aos espanhóis e a capital espanhola aos brasileiros.
Taí um Carnaval que eu curitiria muito. Não é aquela coisa de tropicalismo forçado como o Carnaval de Rotterdam (detalhes no comentário que fiz no post do Roger). Legal saber sobre o Carnaval da Espanha… classe !
oi Juliana,
que legal, gostei do que li e da forma como você nos levou até o carnaval espanhol.
fico imaginando o ‘Carnaval al Desnudo’…provavelmente será algo como ‘Carnaval ao Muita Roupa’, se usarmos o as plumas brasileiras como referência…
valeu, espero ler mais posts escritos por você.
Mais um artigo com informações muito bizarras para nós, brasileiros, e sempre com um texto leve, que nos leva a “devorar” os dados nele contidos! Simplesmente excelente! Parabéns, Juliana Bezerra!