
Quando saímos do país de origem nos preparamos para uma mudança que pode ser mais ou menos radical, mais ou menos dolorida, mais ou menos difícil. Os papéis e a burocracia são as primeiras descobertas e normalmente elas não são muito agradáveis. Em seguida, vem a cultura local, as diferenças dos hábitos culinários e a saudade da família. O problema é que nunca pensamos, aliás, nem imaginamos que essa adaptação também passa por detalhes quase sempre neglicenciados até que nos deparamos com eles :
– o teclado do computador, mesmo em um país ocidental, não é o mesmo. O “til” e os acentos agudos do português usados no “o”, no “a”, no “i” e no “u” não existem em francês e para escrever corretamente temos que inseri-los um a um no Word antes de publicar qualquer coisa ou de enviar um mail sem erros de ortografia. Felizmente os amigos entendem quando esquecemos algum…
– trocar de médico, de dentista e de ginecologista pode virar uma dor de cabeça,
– se acostumar com as estações e arrumar o guarda-roupa de acordo com cada uma exige muita prática e experiência, o que se leva anos para adquirir,
– aprender a usar o aquecedor e lembrar de fechar as portas quando eles estão ligados (o Nicolas repete a mesma coisa há cinco invernos, tadinho…),
– lembrar que vai ser necessário raspar o gelo dos vidros do carro em dias de muito frio e que isso não é desculpa para chegar atrasado no trabalho,
– no inverno, sair sempre com chapéu, écharpe, casaco, luvas e um guarda-chuva e lembrar de trazer tudo de volta para casa,
– aprender que não se pode plantar tudo no jardim por que o inverno é rigoroso e as plantas que não são adaptadas morrem,
– pelo mesmo motivo não podemos esquecer os vasos que enfeitam o terraço do lado de fora da casa,
– convencer o cérebro de que manicure é luxo e não uma necessidade absoluta e que podemos viver sem ela,
– usar a mesma roupa durante toda a semana pode ser considerado prático e não falta de imaginação ou preguiça,
– memorizar um telefone “gigante” para não precisar usar a agenda cada vez que liga para os pais,
– fazer supermercado olhando a foto da embalagem e rezando para que o que tiver lá dentro seja bom,
– por falar nisso: ficar muda enquanto a igreja inteira reza o Pai Nosso e a Ave Maria,
– confiar no transporte urbano francês que tem pontualidade inglesa, o que me surpreende até hoje,
– assistir filmes dublados em francês e sem legenda, filme original sό em cinemas especiais (o Renoir no Cours Mirabeau em Aix, por exemplo),
– a impossibilidade de comer arroz e feijão (com o segundo é ainda mais complicado: considerado “exόtico” não é encontrado facilmente) todos os dias,
– enquanto os vinhos são baratos, excepcionais e variados as opções de carne bovina são poucas e caras,
– comer camarão frio com maionese, ostras e esgargots nas festas de fim de ano,
– tentar fazer feijoada, vatapá ou outro prato tipicamente brasileiro sem os ingredientes adequados,
– pagar caro qualquer mão-de-obra,
– pensar uma coisa, dizer outra e a pessoa que lhe escuta entender uma terceira mensagem, ninguém merece…
– não existir carnaval, micareta, festa junina, procissões, bailes de ano novo, de 15 anos, de formatura…
– esperar passar a vontade de comer pastel, coxinha, kibe e outras bobagens que trazemos no sangue (a não ser que se tenha vocação para a cozinha o que não é o meu caso…),
– se sentir analfabeto e perdido no meio da cidade sem entender nem as placas, nem as orientações dadas pelos nativos,
– ser formal e usar toda a gentileza possível com os desconhecidos com quem você se relaciona, chamar alguém de “você” é reservado para os amigos e familiares,
– achar esquisito seu filho lhe responder em francês,
– achar esquisito seu marido lhe falar em português,
– começar a se referir ao Brasil como um outro país!
Gostei tanto do post que fiz questao de divulgar o mesmo no Twitter!
Oi Roberto, muito obrigada. Estou começando agora a usar o Twitter e ainda tenho muito o que aprender. Um grande abraço.
Hehehe…muito bom texto. Com algumas coisas me identifiquei bastante, principalmente com relação aos médicos e com o supermercado. Já o frio, como sou do extremo sul do Brasil já estou acostumada a ter guarda roupa de inverno e de verão! 🙂
Ana, me amarrei nessa lista! Muito bem feita e cômica! Ou eu ria ou eu balançava a cabeça para concordar. Apesar de eu viver no Japão – e não na França – eu poderia muito bem malocar uns itens da sua lista e fazer uma como se fosse a minha tbm! Queria comentar alguns, mas são tantos bons. Essa da festa junina, das roupas de inverno, carne cara etc etc. Aliás, não vou a manicure, mas as brasileiras aqui no Japão fazem o mesmo esforço psicológico! rs. Muito maneiro! Boa Sorte ae !
Oi Caruso,
Muito obrigada! Nao pensei que fosse encontrar outros brasileiros com os mesmos “probleminhas”! Aproveitei para conhecer o seu blog. Gostei muito do novo layout e vou visita-lo sempre. Beijos e até breve.
O feijão branco não é facilmente encontrado na França?
Oi Alexy, o feijao branco é encontrado, sim, nos supermercados. Em saquinhos com 200g ou em latas de conserva (é meio esquisito, mas meu pai adora). Tb achamos um feijao avermelhado como o que é usado no chili com carne, mas o “preto” e outras variedades so achamos em lojas especializadas de produtos exoticos. Pelo menos aqui na Provence, talvez em Paris seja diferente. Beijos pra você.
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Um forte abraço,
Dário Dutra
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Adorei essa texto !
Continuo achando estranho muita coisa,
como por exemplo, meu filho falando ingles e meu namorado tentando o portugues, ja’ a manicure, dessa ai’ eu nao me livrei,continuo sendo dependente, toda a semana tenho que fazer a unha, senao, eu piro ! hahahahah
A gente se ve!
beijos meus
Excelente post!
Realmente, eu vivo pensando nisso… tanta gente me escreve perguntando como conseguir tirar aquele documento ou outro, mas ninguém se preocupa em saber o que realmente vai sentir na pele – essas pequenas diferenças/conflitos do dia-a-dia.
Aliás, me reconheci em vários itens, como ficar quieta nas missas, achar estranho o marido falando português e que o Brasil é outro país… é bem verdade isso.
Um abraço