Manuela Marques Tchoe – Bath, Inglaterra
A Inglaterra tem uma longa história, povoada de lendas como o Rei Arthur e o mistério de Stonehenge, os palácios e castelos reais (como Buckingham) e os imaginários (como Hogwarts). Esse passado único tem como símbolo uma das cidades mais belas de toda a Inglaterra: Bath.
A abadia de Bath vista do Roman Baths – o antigo encontra o medieval
Só o nome dessa pequena cidade já é inusitado: literalmente significa “banho”, devido às fontes termais que só existem em Bath. Os romanos, muito espertos e adoradores de termas, construíram o magnânimo Banhos Romanos (Roman Baths) em cerca de 60 d.C. Hoje a cidade de Bath é um patrimônio cultural da UNESCO e abriga uma série de lugares fascinantes que percorrem a história da humanidade: da antiguidade, passando pela Idade Média até o presente.
Bath Antiga
Talvez não seja nada de especial que Bath tenha um toque de Roma; afinal, os romanos deixaram legados por toda a Europa. Mesmo assim, é incomum até na Itália encontrar termas em tão bom estado como o Roman Baths dessa cidade. Ao entrarmos no local, logo vemos uma piscina bem no centro, que até hoje recebe as águas das termas, repletas de minerais. Ao passearmos ao redor dessa piscina ainda hoje a fonte das águas, que deixa um rastro amarelado devido ao enxofre. Tocar não pode (que além do enxofre, borbulha com uma alta temperatura), mas assim que a água é tratada podemos provar um tantinho no final (o gosto não é lá essas coisas, mas vale a experiência!).
A piscina do lado de fora do Roman Baths nos dá a sensação de que ainda podemos mergulhar…
A água vinda diretamente dos confins da terra para a piscina antiga. Tocar não é recomendável!
Explorando o Roman Baths vemos diversas piscinas usadas na época, assim como artefatos encontrados em escavações. Dedicada à deusa celta Sulis (mais tarde associada à Minerva), as águas de Bath eram conhecidas por suas propriedades de cura. E assim vinham pessoas de todo o Império Romano banharem-se nas águas sagradas, homens, mulheres, soldados, civis, escravos e libertos…
“Na Grã-Bretanha, as fontes termais são adornadas com esplendor suntuoso para o uso dos mortais, sendo Minerva sua deusa padroeira”
De fato o Roman Baths é o maior tesouro romano da cidade, vale a pena esperar na longa fila e se maravilhar com um dos maiores legados romanos fora da Itália.
Bath Medieval
Os romanos se foram, mas Bath não perdeu sua importância. No folclore britânico, é em Bath onde o Rei Arthur derrotou os anglo-saxões. É uma cidade de reis; o rei Edgar of England foi coroado na Abadia de Bath no ano 973, numa cerimônia que formou a base das futuras coroações de gerações de reis e rainhas.
A fachada medieval da abadia vê arte moderna todos os dias.
Ainda hoje a Abadia de Bath está de pé, majestosa. É um senhor monumento da arquitetura, o centro da cidade passa por ela. É, sem dúvida, o maior legado medieval da cidade.
Por dentro, uma obra-prima.
Bath Renascentista e Georgiana
Por um tempo, Bath sofreu com o declínio vindo do fechamento da abadia e de edifícios religiosos por Henry VIII (o mesmo que fundou a religião anglicana e cortou a cabeça de Ana Bolena). Mas com Elizabeth I, Bath recomeçou seu destino de glória até a guerra civil. Assim que o país estava em paz, mais uma vez Bath era fashion. No século 18 grande parte da arquitetura que vemos hoje foi meticulosamente construída com o Bath Stone (calcário). A pedra que ornamenta esses edifícios dá um tom diferente ao que estamos acostumados na Inglaterra: o tom claro, quase dourado, nos dá a impressão de que fomos transportados para Roma. É diferente das construções tipicamente inglesas: escuras, sombrias. Bath é clara, aberta, alegre. A típica arquitetura georgiana como The Royal Crescent e The Circus nos remetem a esse astral leve. Até a Pulteney Bridge, que cruza o rio Avon, foi inspirada na ponte Vecchio de Florença.
Uma pequena parte do Royal Crescent
Um exemplo de uma casa típica de Bath em The Circus
No século 19, uma das escritoras mais influentes de todos os tempos, Jane Austen, morou em Bath. O Jane Austen Centre é uma forma excelente forma de chegar perto da escritora e de como a cidade influenciou sua escrita. Bath figura em duas obras: Northanger Abbey e Persuasion. Para quem ama um bom livro, a cidade tem diversas livrarias e sebos, além de cafés que te inspiram a escrever. Uma delícia!
Eu e Jane, com o porteiro fazendo graça comigo (por isso esse sorrisão todo) em frente ao Jane Austen Centre.
Dessa mesma época vem uma grande tradição da cidade, os Bath buns, uma espécie de pão fofinho inventado por Sally Lunn (muito parecido com o brioche francês). Vale a pena visitar se deliciar com um chá da tarde e um bun com manteiga ou geléia numa das casas mais antigas de Bath.
Precisa dizer mais?!?!? Tem que dar uma passadinha!
Bath de hoje
Apesar de sua longa história, Bath permanece uma cidade relativamente pequena (não tem nem 100 mil habitantes), o que lhe confere um ar autêntico de uma cidade que viu séculos passarem mas que no fundo, no fundo, sua essência permanece inalterada. Bath tem um lindo patrimônio histórico e cultural, e vale-se disso para o futuro.
Assim, mesmo não sendo possível banhar-se no mesmo local que os romanos, a cultura de spa ainda tem seu lugar em Bath. A água sagrada é utilizada em Thermae Bath Spa, onde pode-se relaxar com uma vista privilegiada da abadia. Pode-se admirar a cidade pelo rio Avon num lindo passeio de barco, ver a Pulteney Bridge de um ângulo diferente.
Vista do rio Avon com a Pulteney Bridge ao fundo.
Hoje uma cidade universitária, Bath oferece galerias, museus, parques, uma série de coisas para ver, sentir e conhecer de perto, um lugar irresistível para apreciar o melhor que a Inglaterra pode oferecer. Na época de Jane Austen a cidade já tinha um caráter vibrante; os últimos 200 anos não mudaram a intensidade de uma cidade que tem muito a oferecer.
E como disse Jane Austen (talvez com um tanto ironia): “Oh! Who can be ever tired of Bath?”
Uma linda homenagem a uma das residentes mais famosas da cidade, Jane Austen, na ocasião dos 200 anos de sua morte em 2017.
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Manuela Marques Tchoe é uma escritora baiana que atualmente reside em Munique, Alemanha. Seu primeiro livro, Ventos Nômades, é uma coleção de contos que exploram o desejo de viajar e do exótico, os desafios e maravilhas de relacionamentos multi culturais e imigração. Manuela também escreve para o seu blog pessoal Baiana da Baviera e está presente no Facebook, Instagram e Twitter com reflexões sobre a vida de imigrante, viagens e literatura.
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Um sonho!
Quem sabe, quando eu tiver dois filhos fora de casa… vou poder estar mais folgada de grana e tempo para dar mais rolezinhos pelo mundo. 😉
Já estive durante um tempo pela Inglaterra e me identifiquei demais com seu texto Manuela. A propósito, a Ana falou comigo sobre o seu livro “Ventos Nômades” e acabei de baixar uma mostra do mesmo e muito possivelmente até o mês de março estarei adquirindo a versão em ebook para o Kindle!! A temática me deixou instigado à ler!! ✌🤘
Oi Elieser! Fico feliz que você tenha gostado do artigo e ainda mais que você vai ler o meu livro! Depois me diz o que você achou 🙂 obrigada pelo comentário!
Nossa, achei um sonho esse lugar. A Inglaterra toda é um sonho. Mas passear por lugares que lembram meus livros favoritos, seria surreal. Adorei sua postagem. Bjs